1. Introdução
O presente documento tem por objetivo apresentar os estudos realizados com base nas normas vigentes e suas edições relacionados aos valores de alarme de H2 e H2O no óleo isolante, mineral e vegetal, definindo e esclarecendo os valores recomendados pela Treetech e as devidas referências de tais valores.
2. Revisão bibliográfica
As referências técnicas consideradas nessa nota de aplicação são:
- ABNT NBR 10576:2017 [1]
- ABNT NBR 10576:2012 [2]
- ABNT NBR 15422:2015 [3]
- ABNT NBR 16518:2017 [4]
- IEC 60422:2013 [5]
- IEC 60599:2015 [6]
- IEEE C57.104:2008 [7]
- IEEE C57.106:2015 [8]
- IEEE C57.155:2014 [9]
- Artigo “Effective methods of assessment of insulation system conditions in power transformers: a view based on practical experience”, de Victor Sokolov [10].
É importante observar que as normas consideradas apresentam valores relacionados ao óleo mineral e ao óleo vegetal isolante. Esses valores são típicos e deverão ser utilizados apenas na falta de dados mais representativos. A própria norma deixa claro que cada usuário deve possuir o conhecimento de seu ativo e, assim, parametrizar o valor que melhor expressa os limites reais de criticidade do equipamento. Como a própria ABNT NBR 10576:2017 ressalta:
ℹ️ "As orientações fornecidas nesta Norma, ao mesmo tempo que tecnicamente recomendáveis, são principalmente direcionadas a servir de base comum para a preparação de procedimentos mais específicos e completos pelos usuários em função das circunstâncias locais. Deve ser empregado um critério bem fundamentado de engenharia na busca do melhor compromisso entre os requisitos técnicos e os fatores econômicos." (ABNT NBR 10576, 2017, página VII).
2.1. Valores limite de H2O
Para óleo mineral:
Os valores de limite para H2O apresentados nas normas são mostrados nas tabelas a seguir.
2.1.1. ABNT NBR 10576
Tabela 1 - Valores limite para H₂0 de acordo com a norma ABNT NBR 10576:2017, para transformadores e reatores
≤ 72,5 kV | > 72,5 kV ≤ 145 kV | > 145 kV | |
Valor limite para H₂0 (ppm) | 40 | 30 | 20 |
Tabela 2 - Valores limite para H₂O corrigido a 20ºC de acordo com a norma ABNT NBR 10576:2012, para transformadores e reatores
≤ 69 kV | > 69 kV ≤ 230 kV | > 230 kV | |
Valor limite para H₂O corrigido a 20ºC (ppm) | 10 | 8 | 6 |
A norma ABNT NBR 10576 de 2017 e de 2012 também apresentam limites de H2O para comutadores. A tabela que mostra esses valores é a “Tabela 10” das normas.
Tabela 3 - Valores limites para H₂O de acordo com as normas ABNT NBR 10576 de 2017 e 2012, para comutador
Valor de H₂O (ppm) | |
Comutador de neutro | 40 |
Comutador de linha | 30 |
2.1.2 IEC 60422
Tabela 4 - Valores limite para H₂O de acordo com a norma IEC 60422:2013, para transformadores e reatores
Valores para H2O (ppm) | ≤ 72,5 kV | >72,5 kV ≤ 170 kV | > 170 kV |
Nível insatisfatório | 30 | 20 | 15 |
Nível prejudicial | 40 | 30 | 20 |
2.1.3 IEEE 57.106
Tabela 5 - Valores limite para H₂O de acordo com a norma IEEE 57.106:2015, para transformadores e reatores
≤ 69 kV | > 69 kV < 230 kV | ≥ 230 kV | |
Valor limite para H2O (ppm) | 35 | 25 | 20 |
Tabela 6 - Valores limite para H₂O de acordo com a norma IEEE 57.106:2015, para comutadores
Valores de H2O (ppm) | ≤ 69 kV | > 69 kV |
Comutador de neutro | 40 | |
Comutador de linha | 30 | 25 |
2.1.4 Saturação Relativa
Com relação à saturação relativa, é apresentada uma tabela nas normas ABNT NBR 10576:2017 e IEC 60422:2013 que relaciona a saturação de água no óleo com a condição da isolação celulósica do equipamento. A presença de água na isolação celulósica acelera o envelhecimento dessa, reduzindo a vida útil do ativo.
Para os alarmes de saturação relativa, foram consideradas as recomendações da norma ABNT NBR 10576:2017, presentes na “Tabela B.1” do anexo B da norma. Esta tabela também está presente na norma IEC 60422:2013 no anexo A (“Tabela A.1”). Outros artigos relacionam a saturação relativa com a rigidez dielétrica [7], e desses podemos retirar outros valores consideráveis.
Tabela 7 - Tabela de saturação relativa de água no óleo vs. condição da isolação celulósica
Saturação de água no óleo (%) | Condição da isolação celulósica |
< 5 | Isolação seca |
> 5 e < 20 | Isolação moderadamente úmida |
> 20 e < 30 | Isolação úmida |
> 30 | Isolação extremamente úmida |
Para óleo vegetal
Os valores de limite para H2O em óleo vegetal apresentados nas normas são mostrados nas tabelas a seguir.
2.1.5 ABNT NBR 16518
Tabela 8 - Valores limite para H₂O de acordo com a norma ABNT NBR 16518:2017, para transformadores e reatores em serviço
≤ 36,2 kV | > 36,2 kV ≤ 72,5 kV | > 72,5 kV ≤ 145 kV | > 145 kV | |
Valor limite para H2O (ppm) | 400 | 350 | 240 | 150 |
2.1.6 ABNT NBR 15422
Tabela 9 - Valores limite para H₂O de acordo com a norma ABNT NBR 15422:2015, para transformadores e equipamentos auxiliares.
Valor limite para H₂O (ppm) | 200 |
Cálculo para teor de água a 20 ºC
2.1.7. Considerações para o cálculo de H2O @20 °C
Algumas normas não definem limites para o H2O corrigido à 20 °C, mas podem ser calculados a partir de fatores de correção. Os pré-requisitos teóricos para a realização dos cálculos de correção, segundo as normas ABNT NBR e IEC são:
- Deve existir equilíbrio nos processos termoquímicos entre o óleo e o papel;
- Não deve existir entrada anormal de água;
- O equipamento deve ter isolação celulósica;
- Não pode haver presença de água livre no óleo.
Os critérios para o cálculo são os seguintes:
- O cálculo não pode ser realizado caso a temperatura do fluxo de óleo no ponto de amostragem esteja abaixo de 20 °C;
- De 20 °C até 40 °C o cálculo é pouco confiável;
- De 40 °C até 70 °C o cálculo é razoavelmente confiável;
- Acima de 70 °C o cálculo apresenta bons resultados.
As conversões de H2O para 20 °C realizadas por qualquer equipamento podem apresentar imprecisões, tanto pela dificuldade de medir a temperatura no ponto de fluxo do óleo quanto pela temperatura do óleo quando abaixo de 70 °C. Sendo assim, para obter valores corrigidos à 20 °C a partir dos valores absolutos apresentados nas normas, é possível considerar uma temperatura típica de operação e realizar a correção seguindo os fatores propostos nas normas (“Anexo A” das normas ABNT NBR 10576:2017, ABNT NBR 16518:2017 e IEC 60422:2013).
2.2. Valores limite para H2
Devido ao fato de o H2 ser um gás formado em processos de decomposição natural do óleo, a definição de um valor de alarme pode ser mais complexa. As normas IEC e IEEE apresentam vários métodos de análise de gases no óleo mineral e vegetal isolante, e, dentre esses métodos, menciona valores de concentração típica de H2 no óleo. Essas concentrações, entretanto, são valores típicos que podem variar para cada fabricante, modelo e tipo de transformador. As normas, então, deixam claro que cada usuário deve conhecer bem cada um de seus ativos, podendo assim ajustar qual o melhor limite de alarme para cada equipamento e obter um monitoramento otimizado de seus equipamentos.
As tabelas a seguir mostram os valores típicos de H2 apresentado por cada norma e para cada equipamento, dependendo do tipo de aplicação.
Para óleo mineral
2.2.1. IEEE C57.104
Tabela 10 - Valores recomendados para H₂ de acordo com a norma IEEE C57.104:2008
H₂ (ppm) | |
Valor típico | 100 |
2.2.2. IEC 60599
Tabela 11 - Valores recomendados para H₂ de acordo com a norma IEC 60599:2015
Transformador | Transformador de instrumentos | Buchas | |||||
Valor típico de H₂ (ppm) | Potência | Forno | Distribuição | Submersível | TC | TP | |
50-150 | 200 | 100 | 86 | 6-300 | 70-1000 | 140 |
Para óleo vegetal
2.2.3. IEEE C57.155
Tabela 12 - Valores limite para H₂ de acordo com a norma IEEE C57.155:2014
Tipo de óleo | H₂ (ppm) |
Soja | 105-118 |
Girassol | 24-45 |
Sintético | 52-82 |
3. Definições dos valores de alarme
Uma vez apresentada a revisão bibliográfica do item 2, o usuário fica livre para definir os limites de alarme recomendados pela norma de sua escolha, podendo até mesmo escolher limites de normas distintas, para a melhor adequação à situação do seu ativo, especialmente nos pontos em que a norma não estipula um valor limite, mas sim um típico comumente observado em outros equipamentos em operação.
A tabela abaixo propõe um ajuste padrão mínimo para que o ativo não fique completamente sem proteção na ausência de dados que balizem a definição dos alarmes. Vale salientar que, os valores de H2O, foram definidos pensando no cenário brasileiro e considerando as normas ABNT NBR 10576 e 16518 como base. Já os limites para H2 foram pensados sob a consulta das normas internacionais IEEE C57.106 e C57.155, e IEC 60599. Portanto, o usuário deve interpretar se tais valores são aplicáveis dadas as políticas da própria empresa e do gerenciamento do seu ativo, realizando as correções que julgar necessárias.
Para óleo mineral
3.1 Valores para alarme no monitoramento de H2O e H2 em óleo mineral
Tabela 13 - Valores padrão limite para aplicação em equipamentos de monitoração de gás e umidade, baseados na ABNT NBR 10576 de 2017 e 2012
≤ 69 kV | > 69 kV ≤ 72,5 kV | > 72,5 kV ≤ 145 kV | > 145 kV ≤ 230 kV | > 230 kV | |
Valor para alarme de H2O alto (ppm)¹ | 30 | 30 | 20 | 15 | 15 |
Valor para alarme de H2O muito alto (ppm)² | 40 | 40 | 30 | 20 | 20 |
Valor para alarme de H2O corrigido à 20 ºC alto (ppm)³ | 15 | 12 | 12 | 12 | 9 |
Valor para alarme de H2O corrigido à 20 ºC muito alto (ppm)⁴ | 20 | 16 | 16 | 16 | 12 |
Valor para alarme por saturação relativa alta (%)⁵ | 30 | ||||
Valor para alarme por saturação relativa muito alta (%)⁶ | 50 | ||||
Valor para alarme de H₂ alto (ppm)⁷ | 100 | ||||
Valor para alarme de H₂ muito alto (ppm)⁸ | 150 |
ℹ️ ¹Valores definidos pela condição "Fair" da norma IEC 60422:2013
²Valores definidos pelos limites da ABNT NBR 10576:2017
³Valores definidos pelos limites da ABNT NBR 10576:2012 somado 50 %
⁴Valores definidos pelos limites da ABNT NBR 10576:2012 somado 100 %
⁵Valor definido pela condição de isolação extremamente úmida da ABNT NBR 10576:2017
⁶Valor definido a partir dos estudos do artigo [7], que definem este valor como sendo o ponto crítico para a rigidez dielétrica do óleo
⁷Valor definido pelo valor típico da IEEE C57.106:2008
⁸Valor definido pelo valor superior da faixa típica da IEC 60599:201
Para óleo vegetal
3.2 Valores para alarme no monitoramento de H2O em óleo vegetal
Tabela 13 - Valores padrão limite para aplicação em equipamentos de monitoração de umidade, baseados na ABNT NBR 16518:2017
≤ 36,2 kV | > 36,2 kV ≤ 72,5 kV | > 72,5 kV ≤ 145 kV | > 145 kV | |
Valor para alarme de H₂O alto (ppm)¹ | 360 | 315 | 216 | 135 |
Valor para alarme de H₂O muito alto (ppm)² | 400 | 350 | 240 | 150 |
ℹ️ ¹Valores limite definidos de acordo com a norma ABNT NBR 16518:2017 subtraídos de 10%
²Valores limite definidos de acordo com a norma ABNT NBR 16518:2017
3.3 Valores para alarme no monitoramento de H2 em óleo vegetal
Tabela 14 - Valores padrão limite para aplicação em equipamentos de monitoração de gases, baseados na IEEE C57.155:2014
Soja | Girassol | Sintético | |
Valor para alarme de H₂ alto (ppm)³ | 101 | 32 | 58 |
Valor para alarme de H₂ muito alto (ppm)⁴ | 112 | 35 | 64 |
ℹ️ ³Valores limite médios de acordo com a norma IEEE C57.155:2014 subtraídos de 10%
⁴Valores limite médios definidos de acordo com a norme IEEE C57.155:2014
4. Referências Bibliográficas
[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas, “NBR 10576: Óleo mineral isolante de equipamentos elétricos – Diretrizes para supervisão e manutenção”, quarta edição, Rio de Janeiro, 2017.
[2] Associação Brasileira de Normas Técnicas, “NBR 10576: Óleo mineral isolante de equipamentos elétricos – Diretrizes para supervisão e manutenção”, terceira edição, Rio de Janeiro, 2012.
[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas, “NBR 15422: Óleo vegetal isolante para equipamentos elétricos“, segunda edição, Rio de Janeiro, 2015.
[4] Associação Brasileira de Normas Técnicas, “NBR 16518: Óleo vegetal isolante para equipamentos elétricos – Diretrizes para supervisão e manutenção”, Rio de Janeiro, 2017.
[5] International Standard, “IEC 60422 – Mineral insulating oils in electrical equipment – Supervision and maintenance guidance”, ed. 4.0, 2013.
[6] International Standard, “IEC 60599 – Mineral oil-filled electrical equipment in service – Guidance on the interpretation of dissolved and free gases analysis”, ed. 3.0, 2015.
[7] International Standard, “C57.104 - IEEE Guide for the Interpretation of Gases Generated in Oil-Immersed Transformers”, 2008.
[8] International Standard, “C57.106 - IEEE Guide for Acceptance and Maintenance of Insulating Mineral Oil in Electrical Equipment”, 2015.
[9] International Standard, “C57.155 - IEEE Guide for Interpretation of Gases Generated in Natural Ester and Synthetic Ester-Immersed Transformers”, Nova Iorque, 2014.
[10] V. Sokolov, Z. Berler, V. Rashkes, “Effective methods of assessment of insulation system conditions in power transformers: a view based on practical experience”, Proceedings in Electrical Insulation Conference and Electrical Manufacturing and Coil Winding Conference, 28-28 Oct. 1999, Cincinnati, OH.
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